Resolvi criar esse blog com 3 objetivos. O primeiro é estudar a língua japonesa, o segundo é entender mais os conceitos do kendô e o terceiro é o de dividir esses conceitos com os kenshis que não tem acesso à publicações em língua portuguesa, já que esse material é quase que inexistente no Brasil.


De início, saliento que, por se tratar de uma interpretação, posso ter a minha visão dos conceitos. Caso tenham acesso à publicação original e discordem de algum termo ou idéia interpretada, peço que entrem em contato para repararmos os eventuais equívocos. Nesse sentido, ao final de cada texto informo de onde os trechos foram extraídos.


Em relação às dúvidas referentes aos conceitos técnicos, sugiro que busquem a opinião de seus senseis. Acredito que seja uma forma de aproximação e também um instrumento de reflexão para ambos os lados. Ou seja, o quê está escrito aqui não é uma verdade absoluta e sim um meio de aprimoramento geral do nosso kendô.


http://twitter.com/kendopt


Boa leitura e bons treinos!

11/09/2010

O kendô e o “KI・気” - Continuação da Introdução

Sugeriram que ficasse claro, o quê é meu comentário e o quê é a interpretação. Além da linha, coloco também a fonte em itálico para os meus comentários.
 

Outra sugestão, foi a de inserir textos sobre os kenshis jovens e mais conhecidos pela maioria, como Teramoto, Shodai, Takanabe, Miyazaki. Além do Miyazaki, que parece ter escrito um livro, desconheço outros materiais. Caso o tenham, por favor, informem- me.
 

Mais uma vez, saliento que a idéia é interpretar os conceitos. Assim, não pretendo interpretar matérias sobre campeonatos regionais por serem pontuais e temporais e não pertencerem à nossa realidade. Exceto, a matéria do Mundial que ocorreu no Brasil por ter comentários relacionados aos nossos kenshis. Mas, infelizmente ainda não a tenho em mãos.
 

Claro que não prometo pronta entrega, pois para cada post demoro de 5 a 50 horas no trabalho de interpretação. Além do meu parco conhecimento em KANJI, em expressões em japonês e minha pouca experiência “kendoniana”, ainda existe uma grande dificuldade de redigir algo em um português “entendível”. Fora as consultas feitas com senseis do Brasil e do Japão e minhas disponibilidades de horário. Mas, podem ficar calmos. Minha intenção é compartilhar as informações com os amantes de kendô, que como eu, gostariam de conhecer mais e mais esse mundo tão extraordinário. 

Nessa continuação do texto, o autor comenta sobre o Chi Kung. Como desconheço o assunto, copio abaixo a explicação que encontrei na Wikipedia:
“...é uma prática de origem chinesa que se refere ao trabalho ou exercício de cultivo da energia. Estes exercícios tem a finalidade de estimular e promover uma melhor circulação de energia, conhecida como Chi (energia vital) no corpo”.
 

Em japonês o Chi Kung, é conhecido como KIKOU・気功. Ou seja, esse “CHI” descrito acima, é equivalente ao “気” em japonês.
 

Ao longo, o autor também cita a expressão “MÊ KARA UROKO GA OTITA (caiu a escama dos olhos)”, comumente utilizada pelos japoneses. Ela é empregada quando uma pessoa consegue finalmente enxergar algo que sempre existiu, mas que para a pessoa é como se fosse uma revelação. Assim como se cai uma escama que encobria os olhos e uma nova visão do mundo, até então desconhecida por ser vista somente através da escama opaca, é apresentada.
 

Lá vai a continuação da introdução do texto de Yoshimura Sensei:
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Há três anos atrás, a convite de uma certa pessoa, comecei a treinar o Chi Kung. Soube então que distanciando o “気” do kendô e dependendo da forma como o vê ele existe como “matéria” (Ao invés de “matéria”, o mais correto seria chamar de “substância”. Mas, sobre esse assunto, acredito que passarão a entender ao longo desta teoria). Graças a isso, não é exagerado dizer que “caiu a escama dos meus olhos”. Tenho a impressão que após esclarecer a verdadeira forma do “気” e aplicá- lo no kendô, encontrei respostas convincentes para algumas dúvidas e mistérios que carregava em torno do assunto.

Por trás do tão dito “fundo das profundezas do kendô” existe o “気”. Assim como, o “気” é fator determinante para diferenciar entre o jovial kendô como esporte de combate e o “altamente nobre” kendô . Refleti que o fascinante segredo do kendô é o “気” e que este leva a pessoas mesmo com idade avançada a continuarem a praticar o KEIKÔ (treino de combate), ou ainda ao sentimento de quererem continuar a praticá- lo. Com todos esses aspectos, concluí que para uma melhor compreensão e desenvolvimento - que vá além de somente enquadrar o kendô como um esporte de combate - é necessário levar claramente ao conhecimento de toda a comunidade do kendô a verdadeira forma do “気”.

Por esses motivos, apesar dos meus modestos conhecimentos e considerando as circunstâncias de que possuo uma certa experiência, organizei essa tese conforme segue.

Dependendo do conteúdo, há partes isoladas que não são conclusivas, com relação à isso, gostaria da opinião dos especialistas e também ficaria muito contente se isso incitasse ao início de uma real pesquisa científica sobreo “気”  para o mundo do kendô.

Ainda, peço desculpas, pois ao longo do texto há muitas expressões utilizadas que atualmente ainda não foram comprovadas, mas são utilizadas aqui a título de conveniência.

KENDÔ TO KI. Revista Guekkan Kendo Nippon, Japão, ed. no. 289, p. 24-25, mar. 2000.

08/09/2010

O kendô e o “KI・気”

Recebi comentários para separar os tópicos. Calma, minha gente! Sou iniciante em blog... Estou procurando uma forma de fazer isso. Se alguém puder me ajudar, agradeço. Rs... Mas enquanto uma alma caridosa não vem me salvar, sigo na batalha das tentativas.


Hoje continuo com o “KI・気”, apesar de ser tentadora a vontade de respirar um pouco e interpretar as regras de shiai. É mais simples, os KANJIS (ideogramas) são mais fáceis e os conceitos são mais familiares para mim. Mas enquanto houver uma pontinha de curiosidade de descobrir um pouco mais sobre esse assunto complexíssimo, prometo que aproveitarei o embalo.


A primeira parte da matéria foi escrita pelo sensei Kenichi Yoshimura que vive na França. Aliás, também tenho intenção de informar em futuros posts a biografia de cada sensei entrevistado ou colaborador dos textos que interpreto, incluindo Taniguchi Sensei e Takano Sensei . Mas agora, vamos ao conteúdo:
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No kendô, e provavelmente também em outras artes marciais, o “気” é uma palavra muito empregada e frequentemente ouvimos dos instrutores coisas como: “Ponha o 気!”; “Acumule o 気 no TANDEM (parte inferior do abdome,  localizado entre o umbigo e a virilha)!”; “Aprimore o 気!”.

Assim, para aqueles que têm a oportunidade de assistirem um embate entre graduados a análise da forma como um SEMÊ (ataque) com o “気” é feito, equivale a ver se o YUUKOU DATOTSU (golpe válido) vira IPPON (ponto), ou discernir a aplicação de determinado WAZÁ (técnica de golpe); ou torna- se até algo de maior interesse.

Provavelmente sendo o “気” para nós, amantes de kendô, importante e profundo a esse ponto, se alguém vêm e nos indaga: “O que é 気?”, como o explicaremos aos inúmeros questionadores de um modo convincente e claro?

Será que a maioria não encerraria o assunto com uma vaga e mediana explicação usando como referência algo do tipo “a forma como se deixa o sentimento tensionado”, ou “o poder de concentração”? É algo que - para os que passam a treinar arduamente e adquirem pela experiência a habilidade corporal de como colocar ou utilizar o “気”dando vida a ele durante os KEIKOs (treinamento de combate), conhecendo corporalmente essa sensação - quando tentam expressá- lo em palavras dificilmente conseguem ter êxito.

Atualmente, é provável  que para os usuais amantes de kendô a forma de se adquirir o “気” - como foi até mesmo por longo tempo para este próprio autor (Yoshimura Sensei) - seja uma “ideologia”. Para nós que passamos a entender o “気”, o relacionamos a elementos como: sentimento, concentração do espírito, diposição... e por aí vai. Todos sem nenhum formato, sem vizualização, algo subjetivo que resta somente sentí- lo dentro da própria mente;  não se insere nenhum elemento “material”. E nisso, se o autor diz que o “気” além de ser mais que uma ideologia é uma “matéria”, que não se vê com os olhos, mas que seja possível de sentí- la pelo tato (ou uma sensação próxima a isso), como reagiria o leitor? “Mas que idiotice...”  Não seria equivocado dizer que a maioria não acreditará nisso mentalmente.  Pode até ter alguns senseis que repreenderiam o autor dizendo “Não sabia nem isso?”. 

Seja como for, no atual mundo do kendô não é errado afirmar que grande parte das pessoas compreendem o “気” somente como “algo ideológico”.  Mesmo no caso de senseis que tenham familiaridade com o “気” e seus ensinamentos e leituras sejam fundamentados nos princípios de que “o 気 é uma matéria”, a forma como o expressam infelizmente não é apropriada, ou o suficiente clara para eliminar a idéia prejudicial da qual tem o  interlocutor de quê “o 気 é algo além de uma ideologia”. Não há como não dizer que - considerando o “気” uma “matéria” e isso seja um senso comum, e comparando como é dada a importânica à matéria nas esferas do BUJUTSÚ (arte marcial militar), ou do BUDÔ (arte marcial), da medicina, ou da ciência, onde provavelmente deveríamos ter o mesmo tipo de aprofundamento com o  “気” - em relação a esse assunto temos no mundo do kendô um nível extremamente baixo de conhecimento.

Independente de suarmos no KEIKO e sempre notar a sensação corporal do ”, o fato é que não temos a mínima idéia do quê é isso na verdade.

 KENDÔ TO KI. Revista Guekkan Kendo Nippon, Japão, ed. no. 289, p. 24, mar. 2000.

06/09/2010

Kendô que se vence pelo “KI・気”

Começa agora uma série de posts sobre o “KI・気”. Normalmente, depois do termo em japonês, coloco o significado em português. Não farei isso porque a publicação explica minuciosamente o termo no mundo do kendô, incluindo entrevistas com senseis de alta graduação e explicações científicas. Só para se ter uma idéia, são 30 páginas de um especial sobre “KI・気”  publicadas na revista Kendô Nippon. Para efeito de comparação, a parte do texto sobre SEMÊ do Taniguchi Sensei tinha somente 3 páginas!


O termo é tão complexo que em um dicionário japonês de KANJI (ideogramas), ao procurar na letra き(lê- se ki em HIRAGANÁ, um tipo de escrita japonesa mais simples) encontrei, por cima, 72 palavras que começam com o KANJI “気”. Fora as palavras que terminam com esse KANJI... Claro que nem me aventurei a procurá- las.


Mesmo em um dicionário de KANJI para o inglês, encontrei 4 significados diferentes para o “気”, de acordo com o seu emprego. Aí vão eles:


1.    Espírito/ Mente/ Consciência/ Estado emocional
気にする KI NI SURU (levar a sério/ fazer parte da causa)
気に入る KI NI IRU (gostar/ ter prazer com algo)
気が付く KI GA TSUKU (preocupar- se/ atentar- se)
気が重い KI GA OMOI (sentimento negativo pesado/ desanimar- se)
気がする KI GA SURU (ter a sensação/ pressentimento)


2.    Temperamento/ Característica Psicológica
気が強い KI GA TSUYOI (ter personalidade forte)
気が短い KI GA MIJIKAI (ser irritado)
気を悪くする KI O WARUKU SURU (ficar ofendido/ sentir- se magoado)


3.    Intenção
気が変わる KI GA KAWARU (mudar de pensamento)
何の気無しに NAN NO KI NASHI NI (sem ter a intenção de/ casualmente)


4.    Cuidado/ Atenção/ Precaução
気を付ける KI O TSUKERU (tomar cuidado com algo/ ter precaução com algo)


A título de curiosidade, no mesmo dicionário, há uma listagem das palavras que são constituídas pelo KANJI. São 12 grupos:


1.    Gás/ Vapor/ Ar
2.    Atmosfera
3.    Respiração
4.    Energia Vital
5.    Energia/ Força/ Potência energética
6.    Fenômenos naturais
7.    Espírito/ Mente/ Consciência
8.    Temperamento/ Característica Psicológica
9.    Intenção
10.    Cuidado/ Atenção/ Precaução
11.    Sinal/ Indicação/ Sintoma
12.    Sabor/ Sensação


Saliento que, segundo esse mesmo dicionário, o “気” sozinho significa espírito, mente ou consciência. Os significados acima fazem parte dos grupos de palavras em que o KANJI “気”  é composto com outro KANJI e dá origem a várias palavras de cada grupo.


Como os posts são sobre o “気” para o kendô, paro por aqui. A idéia era somente ilustrar o quanto esse termo em japonês é complexo e, acho que posso afirmar, vital como o ar.


Para esse primeiro post, interpretarei a introdução do especial, intitulado“気 DE KATSU KENDÔ (Kendô que se vence pelo KI)”


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No kendô, há várias situações em que os termos como “KIAI・気合 (grito/ espírito de luta)”, “KIRYOKU・気力 (energia/ força espiritual)” e “KIHAKU・気迫 (intensidade/ determinação)” são muito ouvidos. No cotidiano japonês as expressões com ”KI ・気”, como “KI GA TSUKU ・気がつく (perceber/ tornar- se consciente)”, “KI NI NARU・気になる (preocupar- se/ incomodar- se)”, “GUENKI GA NAI ・元気がない (estar desanimado/ não ter energia)” também são frequentemente utilizadas.

Na concepção oriental o termo “気” é tão importante a ponto de ter sua origem relacionada às  relações pessoais. E o mundo kendô tem uma grande relação com esse “気”. Ele está no momento em que há a batalha do SEMÊ (ataque) entre os adversários; ele age quando ambos estão golpeando; ele é uma força invisível que vai além da técnica e da força física. Apesar de não ter forma, é algo que definitivamente existe. 

Mesmo dentro da história do KEN (espada), não é pequeno o número de pessoas que colocaram peso nesse  “気” e o praticaram conscientemente. Mesmo hoje em dia, quanto mais graduado se fica, mais se sente a importância do “気” e a meta passa a ser ganhar do adversário pelo “気”. Notar o “気”, elevar o  “気” para no final manejar um KEN de alto nível...

HONSHI HENSHÚBU. KI DE KATSU KENDÔ. Revista Guekkan Kendo Nippon, Japão, ed. no. 289, p. 22-23, mar. 2000.