Resolvi criar esse blog com 3 objetivos. O primeiro é estudar a língua japonesa, o segundo é entender mais os conceitos do kendô e o terceiro é o de dividir esses conceitos com os kenshis que não tem acesso à publicações em língua portuguesa, já que esse material é quase que inexistente no Brasil.


De início, saliento que, por se tratar de uma interpretação, posso ter a minha visão dos conceitos. Caso tenham acesso à publicação original e discordem de algum termo ou idéia interpretada, peço que entrem em contato para repararmos os eventuais equívocos. Nesse sentido, ao final de cada texto informo de onde os trechos foram extraídos.


Em relação às dúvidas referentes aos conceitos técnicos, sugiro que busquem a opinião de seus senseis. Acredito que seja uma forma de aproximação e também um instrumento de reflexão para ambos os lados. Ou seja, o quê está escrito aqui não é uma verdade absoluta e sim um meio de aprimoramento geral do nosso kendô.


http://twitter.com/kendopt


Boa leitura e bons treinos!

08/09/2010

O kendô e o “KI・気”

Recebi comentários para separar os tópicos. Calma, minha gente! Sou iniciante em blog... Estou procurando uma forma de fazer isso. Se alguém puder me ajudar, agradeço. Rs... Mas enquanto uma alma caridosa não vem me salvar, sigo na batalha das tentativas.


Hoje continuo com o “KI・気”, apesar de ser tentadora a vontade de respirar um pouco e interpretar as regras de shiai. É mais simples, os KANJIS (ideogramas) são mais fáceis e os conceitos são mais familiares para mim. Mas enquanto houver uma pontinha de curiosidade de descobrir um pouco mais sobre esse assunto complexíssimo, prometo que aproveitarei o embalo.


A primeira parte da matéria foi escrita pelo sensei Kenichi Yoshimura que vive na França. Aliás, também tenho intenção de informar em futuros posts a biografia de cada sensei entrevistado ou colaborador dos textos que interpreto, incluindo Taniguchi Sensei e Takano Sensei . Mas agora, vamos ao conteúdo:
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No kendô, e provavelmente também em outras artes marciais, o “気” é uma palavra muito empregada e frequentemente ouvimos dos instrutores coisas como: “Ponha o 気!”; “Acumule o 気 no TANDEM (parte inferior do abdome,  localizado entre o umbigo e a virilha)!”; “Aprimore o 気!”.

Assim, para aqueles que têm a oportunidade de assistirem um embate entre graduados a análise da forma como um SEMÊ (ataque) com o “気” é feito, equivale a ver se o YUUKOU DATOTSU (golpe válido) vira IPPON (ponto), ou discernir a aplicação de determinado WAZÁ (técnica de golpe); ou torna- se até algo de maior interesse.

Provavelmente sendo o “気” para nós, amantes de kendô, importante e profundo a esse ponto, se alguém vêm e nos indaga: “O que é 気?”, como o explicaremos aos inúmeros questionadores de um modo convincente e claro?

Será que a maioria não encerraria o assunto com uma vaga e mediana explicação usando como referência algo do tipo “a forma como se deixa o sentimento tensionado”, ou “o poder de concentração”? É algo que - para os que passam a treinar arduamente e adquirem pela experiência a habilidade corporal de como colocar ou utilizar o “気”dando vida a ele durante os KEIKOs (treinamento de combate), conhecendo corporalmente essa sensação - quando tentam expressá- lo em palavras dificilmente conseguem ter êxito.

Atualmente, é provável  que para os usuais amantes de kendô a forma de se adquirir o “気” - como foi até mesmo por longo tempo para este próprio autor (Yoshimura Sensei) - seja uma “ideologia”. Para nós que passamos a entender o “気”, o relacionamos a elementos como: sentimento, concentração do espírito, diposição... e por aí vai. Todos sem nenhum formato, sem vizualização, algo subjetivo que resta somente sentí- lo dentro da própria mente;  não se insere nenhum elemento “material”. E nisso, se o autor diz que o “気” além de ser mais que uma ideologia é uma “matéria”, que não se vê com os olhos, mas que seja possível de sentí- la pelo tato (ou uma sensação próxima a isso), como reagiria o leitor? “Mas que idiotice...”  Não seria equivocado dizer que a maioria não acreditará nisso mentalmente.  Pode até ter alguns senseis que repreenderiam o autor dizendo “Não sabia nem isso?”. 

Seja como for, no atual mundo do kendô não é errado afirmar que grande parte das pessoas compreendem o “気” somente como “algo ideológico”.  Mesmo no caso de senseis que tenham familiaridade com o “気” e seus ensinamentos e leituras sejam fundamentados nos princípios de que “o 気 é uma matéria”, a forma como o expressam infelizmente não é apropriada, ou o suficiente clara para eliminar a idéia prejudicial da qual tem o  interlocutor de quê “o 気 é algo além de uma ideologia”. Não há como não dizer que - considerando o “気” uma “matéria” e isso seja um senso comum, e comparando como é dada a importânica à matéria nas esferas do BUJUTSÚ (arte marcial militar), ou do BUDÔ (arte marcial), da medicina, ou da ciência, onde provavelmente deveríamos ter o mesmo tipo de aprofundamento com o  “気” - em relação a esse assunto temos no mundo do kendô um nível extremamente baixo de conhecimento.

Independente de suarmos no KEIKO e sempre notar a sensação corporal do ”, o fato é que não temos a mínima idéia do quê é isso na verdade.

 KENDÔ TO KI. Revista Guekkan Kendo Nippon, Japão, ed. no. 289, p. 24, mar. 2000.