Hoje continuo com o “KI・気”, apesar de ser tentadora a vontade de respirar um pouco e interpretar as regras de shiai. É mais simples, os KANJIS (ideogramas) são mais fáceis e os conceitos são mais familiares para mim. Mas enquanto houver uma pontinha de curiosidade de descobrir um pouco mais sobre esse assunto complexíssimo, prometo que aproveitarei o embalo.
A primeira parte da matéria foi escrita pelo sensei Kenichi Yoshimura que vive na França. Aliás, também tenho intenção de informar em futuros posts a biografia de cada sensei entrevistado ou colaborador dos textos que interpreto, incluindo Taniguchi Sensei e Takano Sensei . Mas agora, vamos ao conteúdo:
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No kendô, e provavelmente também em outras artes marciais, o “気” é uma palavra muito empregada e frequentemente ouvimos dos instrutores coisas como: “Ponha o 気!”; “Acumule o 気 no TANDEM (parte inferior do abdome, localizado entre o umbigo e a virilha)!”; “Aprimore o 気!”.
Assim, para aqueles que têm a oportunidade de assistirem um embate entre graduados a análise da forma como um SEMÊ (ataque) com o “気” é feito, equivale a ver se o YUUKOU DATOTSU (golpe válido) vira IPPON (ponto), ou discernir a aplicação de determinado WAZÁ (técnica de golpe); ou torna- se até algo de maior interesse.
Provavelmente sendo o “気” para nós, amantes de kendô, importante e profundo a esse ponto, se alguém vêm e nos indaga: “O que é 気?”, como o explicaremos aos inúmeros questionadores de um modo convincente e claro?
Será que a maioria não encerraria o assunto com uma vaga e mediana explicação usando como referência algo do tipo “a forma como se deixa o sentimento tensionado”, ou “o poder de concentração”? É algo que - para os que passam a treinar arduamente e adquirem pela experiência a habilidade corporal de como colocar ou utilizar o “気”dando vida a ele durante os KEIKOs (treinamento de combate), conhecendo corporalmente essa sensação - quando tentam expressá- lo em palavras dificilmente conseguem ter êxito.
Atualmente, é provável que para os usuais amantes de kendô a forma de se adquirir o “気” - como foi até mesmo por longo tempo para este próprio autor (Yoshimura Sensei) - seja uma “ideologia”. Para nós que passamos a entender o “気”, o relacionamos a elementos como: sentimento, concentração do espírito, diposição... e por aí vai. Todos sem nenhum formato, sem vizualização, algo subjetivo que resta somente sentí- lo dentro da própria mente; não se insere nenhum elemento “material”. E nisso, se o autor diz que o “気” além de ser mais que uma ideologia é uma “matéria”, que não se vê com os olhos, mas que seja possível de sentí- la pelo tato (ou uma sensação próxima a isso), como reagiria o leitor? “Mas que idiotice...” Não seria equivocado dizer que a maioria não acreditará nisso mentalmente. Pode até ter alguns senseis que repreenderiam o autor dizendo “Não sabia nem isso?”.
Seja como for, no atual mundo do kendô não é errado afirmar que grande parte das pessoas compreendem o “気” somente como “algo ideológico”. Mesmo no caso de senseis que tenham familiaridade com o “気” e seus ensinamentos e leituras sejam fundamentados nos princípios de que “o 気 é uma matéria”, a forma como o expressam infelizmente não é apropriada, ou o suficiente clara para eliminar a idéia prejudicial da qual tem o interlocutor de quê “o 気 é algo além de uma ideologia”. Não há como não dizer que - considerando o “気” uma “matéria” e isso seja um senso comum, e comparando como é dada a importânica à matéria nas esferas do BUJUTSÚ (arte marcial militar), ou do BUDÔ (arte marcial), da medicina, ou da ciência, onde provavelmente deveríamos ter o mesmo tipo de aprofundamento com o “気” - em relação a esse assunto temos no mundo do kendô um nível extremamente baixo de conhecimento.
Independente de suarmos no KEIKO e sempre notar a sensação corporal do “気”, o fato é que não temos a mínima idéia do quê é isso na verdade.
KENDÔ TO KI. Revista Guekkan Kendo Nippon, Japão, ed. no. 289, p. 24, mar. 2000.